Identidade dos núcleos polônicos nas paróquias brasileiras da Sociedade de Cristo


 

 

Renata SIUDA-­AMBROZIAK*

 

A identidade dos núcleos polônicos no Brasil é um grato tema de pesquisas. Os encontros com os descendentes dos poloneses na terceira ou quarta geração, que continuam a falar em língua polonesa (no caso das pessoas mais idosas até melhor que em português) e que demonstram interesse pela Pátria dos antepassados e apego a ela, não apenas constituem um perfeito material empírico, mas fornecem igualmente inesquecíveis impressões1. Durante a minha estada no Brasil, esses encontros eram sempre facilitados pelos padres missionários da Sociedade de Cristo para os Poloneses Emigrados, cuja ajuda na realização das pesquisas foi inestimável. Eu não me vali apenas da hospitalidade deles, mas também dos arquivos paroquiais, onde se encontram inestimáveis fontes de informação a respeito da vinda, do estabelecimento e do destino dos primeiros imigrantes poloneses. Com base em crônicas2 e documentos paroquiais, isto é, com base em certidões de batismo, de casamentos contraídos, etc., pode-­‐‑se investigar a história de famílias inteiras, a sua origem, os casamentos mistos contraídos, o número de filhos, bem como a sua mortalidade, o que naturalmente nos conduz diretamente a conclusões a respeito das condições de vida e da abastança dos habitantes de determinada paróquia. Muitas vezes os materiais assim coletados puderam ser confirmados através de conversas com os membros mais idosos das comunidades locais.

 

A fim de analisar sucintamente a identidade dos núcleos polônicos locais dentro das estruturas das mencionadas paróquias, tentemos definir o fenômeno da identidade, difícil de ser determinado de uma forma mais precisa. Com esse objetivo, vamos utilizar-­‐‑nos das definições de Z. Bokszański e E. Hałas. Assim, “a identidade define a concepção de si mesmo que o indivíduo tem a seu respeito” (BOKSZAŃSKI, 1989, p. 12), ou seja, aquilo que o indivíduo pensa a respeito de si, a forma como percebe a si mesmo. No caso dos mencionados núcleos de imigrantes, trata-­‐‑se sobretudo de quem o descendente dos imigrantes se sente e de que forma se define.

 

Para o meu espanto, a grande maioria das pessoas mais velhas (e em regra já nascidas em terra brasileira) definem-­‐‑se como polonesas. Trata-­‐‑se de pessoas que se orgulham da sua origem étnica, que enfatizam o fato da preservação e do cultivo das tradições polonesas, sobretudo religiosas. Gostam muito de falar em polonês, sentem-­‐‑ se atraídas por pessoas vindas da Polônia, da qual muitas vezes têm uma imagem muito idealizada, fazem muitas perguntas e falam a respeito de si mesmas e das suas famílias. Com a mesma disposição apresentam o seu conhecimento dos costumes, das canções religiosas e patrióticas, parte das quais já é praticamente desconhecida na Polônia. Essas pessoas participam das missas polonesas celebradas uma vez por semana (ou uma vez por mês) pelo pároco local. Sempre sabem muito bem o que significam os cânticos da quaresma, a via-­‐‑sacra, a bênção dos alimentos na Páscoa ou os ovos de Páscoa ornamentados, a celebração da Páscoa, a missa do galo, a partilha da hóstia natalina3.

Os símbolos que se relacionam com a Polônia são lugares ou pessoas relacionadas com o culto religioso, p. ex. Częstochowa, Jasna Góra, o Papa... As pessoas mais velhas manifestam muitas vezes a vontade de ver a Polônia, mas ao mesmo tempo receiam as consequências da queda dos mitos existentes. Preferem permanecer com os esquemas que persistiram nos relatos orais a decepcionar-­‐‑se com a visão de um país que eles não reconheceriam e não compreenderiam. As poucas excursões à Polônia muitas vezes terminam com um choque cultural e de identidade aliado à negação do polonismo – esse já não é o país dos antepassados, essas pessoas não são capazes de comunicar-­‐‑se na língua polonesa do século XIX por elas utilizada, algumas vezes se tornam objeto de brincadeiras e zombarias, e a Polônia não os recebe de braços abertos, como eles muitas vezes têm imaginado. Após a volta chegam à conclusão de que o lugar deles é no Brasil e de que na Polônia se sentem alienados. Um fenômeno semelhante diz respeito aos jovens que viajam à Polônia para estudar. Algumas vezes as pessoas que voltam não se identificam com os poloneses, o que explicam pela diferença entre as expectativas incutidas pelos mais velhos e as próprias experiências no local.

 

E. Hałas (1992, p. 86) explica os fenômenos relacionados com mudanças de identidade como processos naturais, porquanto “a identidade não constitui uma estrutura dentro do indivíduo, mas tem um caráter interpessoal, negociado e mutável (...). A mudança de identidade é uma mudança na forma de definir a si mesmo, o seu grupo de referência e o seu sistema de papéis”. Trata-­‐‑se então de uma mudança excepcionalmente importante, por vezes drástica e possuindo sérias consequências, mas que se realiza na vida do indivíduo muitas vezes sob a influência de diversos fatores externos e internos. Com esse tipo de mudança de identidade deparamo-­‐‑nos sempre ao analisarmos a identidade de todo grupo de imigrantes, especialmente de imigrantes na segunda, terceira ou quarta geração. Trata-­‐‑se igualmente de um traço específico das pesquisas sobre a comunidade polônica brasileira, onde o papel dos valores comuns como fator que cria a identidade de determinado grupo ou comunidade social4 envolve o sentimento da diversidade e da criação de um todo pelos seus membros, justamente em razão daqueles valores socioculturais, dos modelos culturais comuns, da memória do passado, das vivências e experiências comuns que formam o grupo humano.

 

No caso das paróquias da Sociedade de Cristo, onde os modelos culturais são mais fáceis de perceber diante da homogeneidade étnica relativamente grande das comunidades, esses valores são: a religião católica, as raízes étnicas polonesas, o cultivo das tradições e dos costumes poloneses, a memória dos antepassados, da sua partida da Polônia e vinda ao Brasil, o apego à terra, compreendida não como uma mercadoria ou ainda – como muitas vezes ocorre no Brasil – como capital de investimento ou até especulativo, mas como mãe e alimentadora (o que por sua vez resulta da própria característica da imigração polonesa ao Brasil no século XIX).

 

Como já mencionamos, a saga dos imigrantes, juntamente com a visão da Pátria dos antepassados, transmitidas oralmente de geração em geração, transformaram-­‐‑se num elo forte que une as comunidades de origem polonesa. Os relatos sobre os primórdios da colonização cumprem o papel de lendas heroicas, nas quais os primeiros imigrantes poloneses aparecem como pessoas inquebrantáveis, simples, honradas, religiosas, trabalhadoras, perseverantes, obstinadas, fiéis. Na consciência dos descendentes trata-­‐‑se, segundo o modelo americano, de “self-­‐‑made men”, que abriram às gerações seguintes o caminho para o avanço social (o chamado fenômeno “from ragsto riches”), tendo civilizado o Sul do Brasil5. Nas comunidades locais eles desempenham o papel de heróis “do dia a dia”, de modelos a ser imitados6.

 

Com o passar do tempo, a identidade das comunidades locais de origem polonesa nas paróquias está sujeita a diversos tipos de transformações. A mais profunda delas ocorre quando o indivíduo muda a sua religião7 e o sistema de valores transmitido de geração em geração. Pode também ocorrer uma crise de identidade, quando se difunde o relativismo, a relatividade dos valores e das normas. Em regra estão sujeitos a esse tipo de crise os jovens, e as comunidades por nós analisadas não constituem a esse respeito nenhuma exceção. É um fenômeno natural que a identidade de gerações sucessivas dos imigrantes tem o direito, e até a obrigação, de sofrer mudanças. As novas gerações já se educam em condições inteiramente diversas e não conhecem esse importante veículo de cultura que é a língua dos antepassados. Os seus próprios pais já se envergonham de utilizar-­‐‑se dessa língua, sabendo que o seu polonês distancia-­‐‑se da língua polonesa em constante desenvolvimento e viva daqueles que hoje vêm da Europa. A juventude não compreende as tradições e os costumes poloneses, que parecem ser antiquados, fora de moda, e cada vez mais raramente identifica-­‐‑se com a herança étnica e cultural dos avós, da qual aparentemente não necessita. Aos poucos vão morrendo as últimas testemunhas da vinda dos poloneses ao Brasil, bem como aqueles que gravaram a história a partir dos relatos orais dos pais. Diferente também é o catolicismo dos jovens. Pouca coisa nele resta das tradições polonesas, ele é mais universal, menos ligado com a Polônia e os símbolos poloneses. Algumas vezes os jovens de origem polonesa não sabem que a imagem de Nossa Senhora de Częstochowa que se encontra na capela foi trazida da Polônia como a mais valiosa bagagem dos imigrantes; eles não conhecem e não compreendem o seu significado simbólico.

 

Os jovens, quando se afastam da sua terra natal com o objetivo de conquistar a educação ou uma profissão, deparam-­‐‑se com um outro mundo: cosmopolita, aberto, apresentando tantas possibilidades àqueles que delas souberem fazer uso. Muitas vezes, para se sentir bem nesse mundo, é preciso renunciar à própria “localidade” e esquecer a própria origem e tudo aquilo que se relaciona com o cultivo das próprias raízes. Já no início do século XX esse estado de coisas era previsto: as teorias da sociedade de massa8 afirmavam que no novo mundo industrializado já não haveria espaço para coletividades locais nem para grupos baseados em divisões étnicas.

 

Realmente, pode-­‐‑se observar com base nas paróquias por nós visitadas que, quanto mais uma coletividade é urbanizada e desenvolvida, tanto mais se desfaz a sua estrutura e organização tradicional; quanto menos é isolada (no caso das paróquias que se encontram nas proximidades de um centro urbano e industrial ou que têm fácil acesso à cidade através de uma comunicação bem desenvolvida e estrada asfaltada), tanto mais se torna heterogênea, ocorrem desvios dos sistemas de valores locais e desaparece a cultura popular. Essas coletividades locais, outrora homogêneas sob o aspecto étnico, deixam de ser isoladas e autossuficientes, perdendo as suas antigas funções e a sua coesão interior. No lugar da coletividade local, os indivíduos experimentam um anonimato cada vez maior. Ocorre a afluência de pessoas do interior, criando, até naqueles municípios que afinal não são grandes, as favelas da periferia. Em razão do constante afluxo de pessoas de fora e do simultâneo afastamento dos jovens para estudar ou trabalhar nos centros urbanos maiores, aos poucos vão se dissolvendo os grupos baseados em laços de parentesco, vizinhança ou origem étnica.

 

Por outro lado, tal situação pode também ocasionar uma reação contrária. Já sabemos que a consciência da própria identidade caracteriza-­‐‑se por diversos graus de intensidade, molda-­‐‑se sob a influência de fatores interiores e exteriores e por isso depende, por exemplo, da posição de determinado grupo étnico na sociedade, da cooperação entre os membros desse grupo e da presença de líderes interessados na difusão do conhecimento das raízes da comunidade9. A consciência da comunidade e o seu apoio nas tradições resultantes da origem étnica podem não apenas motivar simplesmente um melhor estado de espírito das pessoas a ela pertencentes, ditado pelo orgulho da própria origem, mas igualmente facilitar a administração e a tomada de decisões que visem ao desenvolvimento da comunidade.

 

Diante da globalização da cultura e do crescente anonimato, os grupos étnicos parecem aos poucos perceber a riqueza que resulta da possibilidade de identificação com determinada cultura e a força decorrente do conhecimento e do orgulho das próprias raízes. Daí a crescente popularidade de movimentos de base, por exemplo do movimento da Representação Central da Comunidade Brasileiro-­‐‑Polonesa (Braspol), que cumpre um papel especial justamente nas paróquias da Sociedade de Cristo, contando com o apoio do pároco local polonês ou de origem polonesa10. Aliás, a presença de um padre que fale o polonês e que compreenda a alma polonesa tem, para a maioria das comunidades paroquiais de origem polonesa, um significado especial. Será suficiente citar a reação das pessoas de uma dessas paróquias, quando ficaram sabendo que ocorreria uma troca de pároco e que o novo pároco não tinha um sobrenome polonês. As reações dentro da comunidade ferveram: “As pessoas diziam que podia até ser um padre negro, mas quando o padre finalmente chegou e verificou-­‐‑ se que é um dos nossos – loiro, simpático e falando o polonês, sentimos um alívio em nossos corações. E depois nos disseram que ele era duplamente nosso, porque polonês e brasileiro numa só pessoa, assim como nós. Ficamos felizes em aqui saudá-­‐‑lo, porque ele nos compreende e nós gostamos dele”.

 

O movimento da Braspol, fundado em algumas centenas de localidades onde vive a população de origem polonesa, tem como tarefa lembrar às pessoas o seu polonismo, fazer com que se sintam orgulhosas de ser descendentes de poloneses e ajudar-­‐‑lhes a viver na sociedade brasileira sem perder as próprias raízes. Naturalmente, quanto mais numeroso esse grupo, tanto menor é a tendência à participação ativa dos membros desse grupo na sua ação e a passividade da maioria dos membros. Percebe-­‐‑se isso claramente no caso de algumas filiais atuantes da Braspol, quando o grande número dos membros iniciais da organização com o tempo vai diminuindo e a atividade esmorece em razão de falhas organizacionais ou de problemas puramente pessoais. Por outro lado, a quantidade do grupo significa sempre a sua força e a possibilidade de influenciar o destino da comunidade. Quanto mais numeroso o grupo, tanto maior também é a necessidade de criar subgrupos menores e especializados, seções ou sucursais (lei de Parkinson), o que faz com que cada um possa escolher algo para si dentro do âmbito amplamente delimitado de determinada organização. Os líderes do movimento organizam encontros, conjuntos folclóricos poloneses, sessões de canções natalinas no período do Natal, a partilha da hóstia ou a pintura de ovos de Páscoa. Vale a pena enfatizar que todas as filiais da Braspol que atuam no Sul do Brasil são organizações abertas e não se fecham à afluência de membros de outras etnias. Visto que em muitas pequenas localidades essa é a única forma de diversão para crianças e jovens, em geral não há queixas de escassez de pessoas para dançar ou para participar dos encontros, e entre os membros do grupo podem ser facilmente encontrados descendentes de poloneses, italianos, portugueses, alemães, japoneses ou negros.

 

A identidade étnica é também o sentimento de pertencer a determinado grupo de pessoas, de participar desse grupo e, sobretudo, de diversidade em relação aos outros grupos. Principalmente no início da colonização, os poloneses no Brasil viam com desconfiança casamentos mistos, e o casamento com os negros ou caboclos era reconhecido como casamento com pessoa de condição social inferior. Com os alemães os poloneses raramente confraternizavam, em razão dos ressentimentos históricos trazidos do Velho Continente. Em algumas comunidades, especialmente entre as pessoas de mais idade, perdura a aversão à mistura étnica. Os mais velhos orgulham-­‐‑se da sua “pureza étnica” e do conhecimento dos costumes e da língua polonesa. No entanto entre os jovens os casamentos mistos são considerados naturais e ocorrem até em proporção maior do que os casamentos contraídos no âmbito do mesmo grupo étnico. E isso não deve ser interpretado como um afastamento das raízes, mas de enriquecimento pessoal e dos filhos com a herança cultural de um outro grupo étnico, o que afinal no Brasil é algo inteiramente natural.

 

Sintetizando as nossas reflexões a respeito da identidade das comunidades locais de origem polonesa no Sul do Brasil, poderíamos repetir com Paweł Rybicki que “na realidade humana o vínculo social, a identificação com determinada comunidade revela-­‐‑se em dois níveis. Um deles é constituído por elementos e relações comuns entre as pessoas, que podem ser definidos concretamente e que podem ser: de sangue, origem e território, língua, cultura em suas diversas áreas e organização da vida coletiva. O outro nível é representado por estados e atos característicos de consciência: pelo sentimento de uma ligação especial com as outras pessoas ou de uma dependência mútua com elas, e pela manifestação desse sentimento nas posturas, nos comportamentos, nas ações individuais ou coletivas”11.

 

Por isso, para se sentir um brasileiro de origem polonesa não é suficiente falar a língua dos antepassados, conhecer seus costumes e suas tradições. Não basta ter a consciência da sua origem e saber de onde veio ao Brasil a avó ou a bisavó. Não basta simplesmente participar de um movimento que busque o renascimento do polonismo. Mas é suficiente sentir dentro de si mesmo o vínculo com outras pessoas, começar a identificar-­‐‑se com elas e amar o que traz consigo a cultura dessas pessoas. Então se torna mais fácil compreender e respeitar aquilo que atravessou os séculos. Mais fácil se torna também chorar jogando um torrão da vermelha terra brasileira sobre um caixão envolto pela bandeira branca e vermelha...

 

Bibliografia

BOKSZAŃSKI, Z. Tożsamość, interakacja, grupa. Łódź, 1989.

HAŁAS, E. Konwersja, Perspektywa socjologiczna. Lublin, 1992.

RYBICKI, P. Struktura społecznego świata. Warszawa, 1979.

TUROWSKI, J. Socjologia. Małe struktury społeczne. Lublin, 1993.

ZNANIECKI, F. Socjologia wychowania. Warszawa, 1973.

 

* Professora assistente no Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Varsóvia.

1 Na análise da difícil questão da identidade das comunidades de origem polonesa, utilizamo-nos no presente artigo do material empírico coletado como resultado das pesquisas realizadas no Sul do Brasil. Os trechos de pronunciamentos das entrevistas gravadas, que aparecem nas notas, ilustram o grau de conhecimento da língua polonesa, da consciência da origem étnica e os conhecimentos dos interlocutores a respeito das suas raízes, bem como o conhecimento da cultura polonesa e o grau de identificação com a Polônia e os poloneses.

2 As crônicas paroquiais, os chamados livros-tombo, contêm a história das paróquias registrada pelos sucessivos párocos. Naturalmente, trata-se muitas vezes de testemunhos subjetivos, assinalados emocionalmente. No entanto, escritas muitas em forma de memórias pessoais do pároco e citando os detalhes e as descrições do dia a dia das primeiras comunidades paroquiais, transformam-se numa inestimável fonte de informações, tanto a respeito das paróquias, da atividade missionária dos padres, como a respeito deles mesmos, da sua abordagem do trabalho entre os imigrantes, das suas inquietações, dos seus problemas e das cotidianas “lutas polônicas”.

3 “Na capela nós sempre cantávamos em polonês, mas eu também fui uma boba. Na igreja eu cantava, mas em casa não botei na cabeça e agora não lembro como é. Mas nós rezamos em polonês. Na capela sempre estiveram presentes a Polônia e o rosário. Nós rezamos a Nossa Senhora de Częstochowa. Temos aqui ainda na capela uma imagem dela que foi trazida da Polônia. Os cânticos da Quaresma eu posso cantar quando quero. Sempre vou à santa missa em polonês, embora seja longe ir a pé”.

4 Os grupos (comunidades) sociais são pessoas que, partilhando valores comuns, são unidas por um vínculo social e formam uma organização interna. (TUROWSKI, 1993, p. 78).

5 Citações de gravações realizadas com descendentes dos imigrantes da Polônia no Sul do Brasil: “Quando eles aqui vieram, só existia mato. Quando queriam ir até o moinho, gastavam um dia para ir e um dia para voltar. Tal era a miséria que aqui existia. Eles tinham que carregar as coisas nas costas e a pé. Agora a situação aqui é boa. Mas os nossos pais aqui sofreram e aqui morreram. Agora por isso nós já vivemos um pouco melhor – e eu já enviei dois filhos para estudar. Eles foram para a cidade. Têm um salário certo todo o mês e vivem bem.”
“Eu sou polonesa. O meu pai, que já morreu, também era polonês. Eu sou casada com um italiano, mas ensinei a todos os meus filhos a falar em polonês, para que não se esqueçam. Porque a nossa Polônia viveu e vive, enquanto o mundo for mundo.”
“Os nossos pais sofreram nesta terra, mas agora, graças a Deus, comparando com os tempos em que eles vieram, a situação está melhor.”

6 Em muitas localidades do Sul do Brasil, os únicos monumentos que surgiram, além dos monumentos de João Paulo II, são os dedicados aos primeiros imigrantes, ou ainda o monumento do agricultor ou do semeador.

7 Segundo o prof. José Flávio Pessoa de Barros, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, um número cada vez maior de brasileiros de origem europeia (incluindo poloneses) começa a sua iniciação nos cultos afro-brasileiros. Durante uma estada no Sul do Brasil, ele foi pessoalmente testemunha da iniciação de jovens de origem polonesa. Das observações realizadas pela autora também resulta que até nos municípios e nas vilas pequenas existem – além da paróquia católica – muitas outras igrejas e seitas.

8 Uma outra teoria, a das chamadas coletividades “não locais”, proclamava que as coletividades estão sujeitas a um processo de especialização, perdendo ao mesmo tempo o seu alcance e o seu caráter local, ou – como proclama a teoria da transformação – estão sujeitas a mudanças, ganhando dessa forma um novo significado, criando novos problemas, mas permanecendo universais.

9 ZNANIECKI F. Socjologia wychowania, vol. I. Warszawa, p. 38.

10 Em todo grupo social encontramos certos modelos culturais, de acordo com os quais são definidos e avaliados os seus membros, e têm um significado especial na moldagem desses modelos os líderes, organizadores e todos aqueles que dirigem a sua atividade e que são: “os intelectuais na nação, os políticos no Estado, os sacerdotes num grupo religioso”.

11 RYBICKI, P. Struktura społecznego świata. Warszawa, 1979, p. 169. 

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