Presença e contribuição dos poloneses na região sul de Santa Catarina


 

 

O movimento da colonização da região Sul do Estado de Santa Catarina sob a orientação do Governo Imperial, pode-se creditar ao Presidente da então Província, Dr. Alfredo de Escragnolle Taunay, que segundo Mattos (1917), em sua visita em Setembro de 1876 ao Vale do Tubarão, ficou admirado pela fertilidade e beleza da região e como conseqüência sugeriu a formação de colônias naquele Vale e no de Araranguá.

 

Pode-se dizer que o empenho do ilustre estadista foi determinante para que o Ministro da Agricultura enviasse uma comissão chefiada pelo engenheiro Joaquim Vieira Ferreira, visando proceder aos primeiros e necessários estudos ainda em dezembro de 1876 e que segundo (Mattos, p.180), “escolheu de princípio as terras do ribeirão Armazém, nas divisas das sesmarias dos herdeiros de João Pacheco dos Reis.”

 

Dessa forma, o núcleo de Azambuja foi fundado a 28 de Abril de 1877, no Vale do Rio Pedras Grandes, afluente do Rio Tubarão, entretanto ainda segundo Mattos (1917) no dia 16 de Abril, 291 imigrantes a grande maioria de origem italiana, foram conduzidos à sede do núcleo colonial que estava em formação.

 

No entanto, há que se registrar que por conveniência da Comissão, formada pelo engenheiro chefe Joaquim Vieira Ferreira, dois ajudantes, dois agrimensores e um praticante, o território da ex-colonia Azambuja foi dividido em quatro núcleos coloniais, a saber: Presidente Rocha (Treze de Maio), Urussanga, Azambuja e Accioly de Vasconcellos, sendo que este último núcleo compreendia inicialmente as seções coloniais de Criciúma e Cocal.

 

O núcleo de Urussanga foi constituído no dia 26 de Maio de 1878 e os primeiros colonos todos de origem italiana foram assentados em seus lotes no dia 12 de junho de 1878, enquanto que os Núcleos de Criciúma e Cocal foram constituídos nos anos de 1880 e 1885 respectivamente.

 

Neste contexto e espaço geográfico, houve a organização de várias comissões, com destaque para a que foi instalada no dia 29 de Novembro de 1886, tendo a frente o engenheiro Francisco Ferreira Pontes, que inicialmente fez um levantamento da planta da Vila de Tubarão e posteriormente buscou mapear e reconhecer as terras devolutas existentes nas margens do mesmo rio, e da estrada geral que o margeava.

 

No entanto, segundo Dall’Alba (1971, p.10), “bem poucas terras do Vale do Tubarão haviam sido ocupadas até o terceiro quartel do século passado. Acima do Tubarão só havia umas fazendas em Pedras Grandes e Gravatal. Uns poucos moradores fugidos de Florianópolis, haviam-se embrenhado até Braço do Norte. No atual município de Orleans havia a Sesmaria dos Pacheco”.

 

Ainda sob a ótica de Dall’Alba (1983, p.24), “Há, porém, muito espaço para colocar colonos. Também não faltam as facilitações que o Governo e as companhias oferecem aos imigrantes, para que se colonizem estes terrenos, aptos, por suas condições, a assegurar ao imigrante e sua família uma pequena prosperidade e um modesto bem-estar.”

 

É importante lembrar que o movimento de colonização da região sul de Santa Catarina, foi intensificado também com a criação de uma empresa colonizadora com Sede no atual município de Grão Pará, quando no dia 02 de dezembro de 1882, aniversário de Sua Majestade Dom Pedro II, nasceu um plano de colonização denominado Colônia Imperial. Desta forma, quando a Princesa Isabel Cristina casou-se com o Conde d’Eu, recebeu do Imperador Pedro II como dote, as terras de Grão Pará, medidas e demarcadas no então município de Tubarão. Os príncipes formaram uma sociedade com o Comendador Caetano Pinto Júnior, que, instalado em Paris, organizou uma rede que recrutava imigrantes em toda a Europa, para a ocupação da novel colônia.

 

Assim, segundo Piazza (1983, p.390) “os primeiros imigrantes partiram de Gênova, a 22 de Novembro de 1883, formando um grupo de 22 famílias, num total de 132 pessoas, embarcadas no vapor “Scrivia” e chegaram à Sede da Colônia, a 25 de Dezembro. E, assim, sucessivamente, vão engrossando os números de habitantes da Colônia”.

 

Entretanto, o movimento de colonização observado no Sul Catarinense, está diretamente relacionado segundo Dall’Alba (1971, p.16), com a LeiGlicériode 28.6.1890, “que concedeu enormes facilitações à imigração. Tanto que publicada na Europa, suscitou grande entusiasmo. Muitos poloneses, alemães, tiroleses e russos encaminharam-se para o Brasil atraídos pelo que nela se prometia.”

 

Importa esclarecer que Decreto de 28 de Junho de 1890, chamado comumente de lei Glicério, nome do Ministro que sugeriu sua elaboração, na realidade tem dois aspectos relevantes: o primeiro trata do transporte e introdução do imigrante no território da então República e o outro regula a colonização das propriedades agrícolas privadas.

 

O movimento imigratório planejado e organizado no Sul Catarinense foi determinante para o estabelecimento dos “nacionais”, bem como dos italianos, alemães, poloneses, austríacos, letos, russos e está diretamente relacionado com a criação e consolidação de vários municípios e às transformações na estrutura do desenvolvimento regional.

 

Verifica-se neste espaço geográfico a presença da corrente imigratória polonesa que seguiu em muitos casos os roteiros das colonizações italianas e alemãs. Dentro dessas levas de imigrantes poloneses, é possível destacar um grupo de diversos camponeses, artesãos, carpinteiros, ferreiros e religiosos, que com seus conhecimentos e habilidades contribuíram para o progresso econômico e social da região Sul do Estado de Santa Catarina.

 

Conforme Piazza (1983, p.386), “a partir de 1882, em função do Contrato “Caetano Pinto”, já se tem o ingresso de poloneses em várias áreas da então Província de Santa Catarina, atingindo, naquele ano, um grupo polonês a localidade de Pinheirinho, na área do atual município de Jacinto Machado no sul catarinense”.

 

Por sua vez, Marques (1978, p.111) destaca que “nos livros de registro da Paróquia de Urussanga é possível identificar a presença dos poloneses pelos anos de 1885 na hoje Paróquia de Cocal do Sul”.

 

É importante destacar que segundo Mattos (1917, p.191), “De outubro de 1890 a Abril de 1891, entraram para os cinco núcleos, que constituíam a ex-colonia Azambuja 312 famílias russas, 1 família alemã e 7 italianas, em total de 1.600 indivíduos.”

 

Prosseguindo, Mattos (1917, p.191), afirma que “foi a primeira entrada de elementos russos, sendo os mesmos localizados nos núcleos de Cresciuma e Accioly de Vasconcellos. Na maioria, esses colonos eram tecelões, cervejeiros, ferreiros, sapateiros, sendo apenas cerca de 25 % agricultores”.

 

Tudo leva a crer que os “elementos russos” eram em grande parte poloneses, pois a Polônia naquele contexto da história estava dividida e foi forçada a viver sob a tutela de três invasores: a Prússia, a Rússia e a Áustria, portanto não existia o Estado polonês, somente a nação polonesa.

 

Neste sentido, o historiador Piazza (1983, p.389) afirma que: “no segundo semestre de 1889, verdadeiro delírio coletivo apoderou-se de centenas de aldeias na parte russa da Polônia. Os mais desencontrados boatos referentes ao Brasil propagaram-se com se fosse uma epidemia. Era o início do que logo foi denominado de febre brasileira. Trabalhadores rurais, pequenos e médios proprietários, trabalhadores urbanos, todos divisaram uma rara oportunidade para emigrar.”

 

Assim, neste contexto pode-se afirmar segundo Tibincoski (1997), em 1890 quando a cidade de Criciúma completava 10 anos de sua fundação, chegaram os primeiros imigrantes poloneses em número de quinze famílias. Este grupo chegou no dia 31 de Outubro de 1890 e instalou-se nas localidades de Linhas Três Ribeirões, Linha Anta e Linha Batista e estava assim constituído: Pedro Bykoski, Jacob Sklarski, Stefano Ptasinski, Francisco Kurosewski, Paulo Strazaukoski, Francisco Bialecki, Stanislau Kostrzeski, João Zenler, João Kuboski, Leon Piechatoski, Stanislau Kuroski, Edmundo Langer, Stefano Macieski, Felix Opocsjnski e Jejorski, os últimos dois solteiros, os quais mais tarde migraram para o Rio Grande do Sul.

 

Em janeiro de 1891, chegou a segunda leva de imigrantes que foram assentados na Colônia Accyoli de Vasconcelos, atual município Cocal do Sul, onde se instalaram nas localidades de Linha Cabral, Linha Espanhola, Linha Torres e Linha Ferreira Pontes, destacando-se as famílias: Puziski, Prais, Lubawy, Formanski, Wasieski, Wistowaty, Bartosiak, Pelusek, Boacianoski, Wronski, Koslark, Nowak, Rutkowski, Kupinski, Ranieszwski, Mrocskoski, Raieczyk, Radvanski, Ruzanski, Suchenski, Sulceski, Golombyeski, Szcresnj, Smieleski, Zadroski, Kuniarski, Rycrkok, Krystkieviecz, Szlachta, Cizeski, Angulski e Kanarek.

 

Ainda segundo Tibinkoski (1997), em maio de 1891, veio o último grupo de imigrantes, os quais se instalaram na Linha Batista, onde vamos encontrar os nomes de: João Klima, Roque Machinski, Eduardo Stachoski, João Miezieski, José Choinaski, Gabriel Bartochak, Francisco Trzosek, Miguel Budny, Stanislau Machiski, Antônio Demboski, Wosniewski, João Rzatki, Miguel Pietrzak, Kazmiecrak, André Studzinski, Wadislau Ranachoski, Mateus Budny, Simão Tibinkoski, Pedro Krawcsyk, Szouvinski, José Bartochak, Tomas Stachoski, Jacó Selinger, Vicente Gaidzinski, Mateus Galant, Wadislau Demboski, Ignácio Rzatki, João Milack, José Selinger e Martin Woicichoski.

 

Entretanto, devemos lembrar segundo Tibinkoski (1997), que deste último grupo de imigrantes nem todos ficaram na Linha Batista, um número significativo se instalaram na Linha Três Ribeirões, mais precisamente onde hoje se encontra a Capela do Morro do Caravágio, onde destacamos os nomes de Adão Wisowaty, André Bieliski, André Guzlinski, Augusto Wrubleski, Boleslau Getner, Carlos Zincoski, João Levandoski, Lourenço Siminski, José Getner, Miguel Lucinski, Vicente Guzlinski, Wadislau Folc, Waldemiro Barabas, Leonardo Stracowski.

 

Segundo Piazza (1983), a partir de 1887, foi se acentuando a fixação de poloneses no município de Orleans, nas localidades de Rio Minador e Chapadão, formando um núcleo de 30 famílias. Muitos poloneses também se estabeleceram no município de Grão Pará, formando colônias nas localidades de Linha Antunes Braga, São Camilo e especialmente em Braço Esquerdo, onde o número de famílias foi maior, aproximadamente 40.

 

Importa destacar segundo Dall’Alba (1971), que poucos poloneses vieram diretamente da Polônia para Orleans e consequentemente para o município de Grão Pará. A grande maioria veio do núcleo Accyoli de Vasconcellos, atual município de Cocal do Sul, pois era neste espaço geográfico que os imigrantes poloneses foram inicialmente assentados no sul do nosso estado.

 

Neste contexto, conforme constata Píton (1969, p.132), fixaram-se na Linha Antunes Braga, Braço Esquerdo, São Camilo, Morro da Palha e Chapadão.“além do Sr. Estevão Matusiak, devemos mencionar os veteranos Felix Kawka, os Maciejwski, Pachoek, Danilewski, Gaidzinski, Badziaki, Spancerski, Spierski, Liszewski, Matuszewski, Herki, Fabisiaki, Krajewski, Radwanski, Selinger.”, sendo que podemos complementar com as famílias Szczepaniak, Demay, Kowalski, Macieski, Danielski e Zawaski.

 

Conforme Nickodem (1964), a passagem de uma “Expedição Polono-Brasileira à Pé”, pelas colônias polonesas do sul do Estado no longínquo ano de 1914, permitiu a identificação das famílias Staszak e Skierniewski estabelecidas com comércio na cidade de Laguna e dos Angulski, Trojanowski e Wojtucki em Tubarão que atuavam profissionalmente junto a Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina.

 

Segundo Werpachowski, (1964), a maioria desses imigrantes que se fixaram na região sul do Estado de Santa Catarina procedia das regiões de KUJAWY, MAZOWSZE, LÓDZ, KALISZ, POZNAN. Valorizavam sobremaneira três coisas: a religião, a pátria e a cultura, e se preocupavam muito em alfabetizar seus filhos.

 

O padre Francisco Chylinski foi o pai e o líder espiritual da etnia polonesa na região Sul do Estado, principalmente no município de Cocal do Sul e arredores. Segundo Besen (2009), os poloneses necessitavam de um Padre e assim em 1º de Junho de 1910 é nomeado páraco de Araranguá e o primeiro cura do Curato de Nossa Senhora da Natividade em Cocal do Sul, granjeando a confiança dos padres alemães e italianos, pois o eixo da unidade era a fé e não a nacionalidade. Falava perfeitamente o português, polonês, alemão e italiano, conseguindo assim, com relativa facilidade, harmonizar poloneses e italianos na prática de sua fé em consonância com suas tradições religiosas.

 

Importa destacar, conforme Besen (2009), que o Padre Franscico Chylinski, nasceu na Polônia em 14 de setembro de 1864 e foi ordenado presbítero em Cracóvia em 01 de Julho de 1888, recebendo o nome de Frei Boleslau, tendo chegado ao Brasil em 1895. Desta forma, Cocal do Sul tornou-se com o padre Chylinski o centro de convergência dos imigrantes poloneses. As festas e a liturgia eram celebradas como na Polônia, com as belas melodias e com hinos cantados em sua língua-pátria. São Casemiro, Santa Edwirges e Nossa Senhora de Czestochowa foram venerados e festejados com grande afluência de público até a morte do padre Francisco, ocorrida a 14 de março de 1931.

 

Entretanto é importante lembrar, segundo Marques (1978), a divergência de língua e costumes provocou também a divergência de mentalidade entre italianos e poloneses, que desde modo construíram duas igrejas na mesma localidade de Cocal do Sul, uma em honra a Santa Edwirges, a dos poloneses e outra em honra a Nossa Senhora da Natividade, a dos italianos.

 

Destacamos, também entre as personalidades que contribuíram para o desbravamento, colonização e progresso do atual município de Grão Pará e Orleans, o ilustre polonês Etienne Gaudenty Stawiarski, diretor da Empresa de Terras e Colonização, cuja direção assumiu em 1895, mantendo-se no cargo por mais de 45 anos. Segundo Dall’Alba (1986, p.21), “Depois dos fundadores é certamente a figura que mais se destaca no período de formação de Orleans.”, tendo chegado no ano de 1885 e colaborado como agrimensor no traçado do perímetro urbano do novel povoado que surgia nas encostas da Serra Geral.

 

Segundo Zumblick (1987), muitos outros poloneses no final do século passado e início deste contribuíram nas decisivamente nas mais diversas áreas de atuação, como Józef Angulski, que do ano de 1902 a 1916 foi eficiente chefe das oficinas da Estrada de Ferro Teresa Cristina, em Tubarão. Ainda conforme afirma Dall’Alba (1971), importa destacar que se deve ao competente técnico nascido na Polônia a transferência da sede das oficinas da cidade de Imbituba para Tubarão, ocorrida no ano de 1906, além de sua atuação como técnico em manutenção de locomotivas na cidade de Lauro Muller junto ao empreendimento que o Sr. Henrique Lage havia instalado.

 

A educação não foi esquecida pelos imigrantes poloneses que colonizaram o Sul Catarinense. Segundo Tibincoski (1997, p.11) “vencidas a primeiras dificuldades com a moradia, os imigrantes poloneses, começaram a preocupar com a educação dos filhos”. Os educadores eram escolhidos entre os que sabiam mais, assim nos principais núcleos assumiram a educação os seguintes professores: Linha Batista, Srs. João Machinski e Gabriel Bartosiak, Linha Anta, Sr. Jacob Sklarski, Cocal do Sul, Srs. João Wronski e Casemiro Kubascki e Grão Pará, Sr. Józef Drill. Importa destacar que com a chegada do Padre Francisco Chilynski a educação teve significativos avanços, pois formou uma biblioteca e assinaturas do Jornal Lud editado em Curitiba chegaram as mãos dos agricultores, além de sua dedicação ministrando aulas para os filhos dos imigrantes.

 

Entretanto, ainda segundo Tibincoski (1997) a evolução maior na colônia, se deu com vinda de um casal de intelectuais no ano de 1915. Trata-se da atuação do Dr. Stanislau Werpachowski, farmacêutico e prático e de sua esposa Helena Grzywinski Werpachowski, professora e parteira, que graças a seu ativo e incansável trabalho humanitário salvaram muitas vidas e muitas crianças trouxeram para este mundo de Deus, deixando atrás de si lembranças inesquecíveis e memória eterna. O casal Werpachowski em conjunto com o Padre Chilynski, incentivaram a cultura, a educação, a religião, a polonidade, enfim fundavam sociedades, escolas e erguiam capelas, exercendo com maestria uma liderança exemplar e incontestável.

 

Tibincoski (1997, p.12), ressalta ainda que “a passagem do casal Werpachowski, valeu a pena, pois fundaram a Sociedade Tadeusz Kosciuzsko, que posteriormente foi transformada em Sociedade Agrícola, com finalidade de dar assistência aos agricultores”. Neste contexto a família Bialecki, uma das mais respeitadas no município de Criciúma na figura de Leonardo Bialecki, líder da comunidade de Linha Batista, fundou com seus patrícios a Sociedade ROLNIK e a Cooperativa Agrícola Mista de Linha Batista. As famílias Demboski, Rzatki e Milak tiveram destacada atuação, contribuindo dignamente para o desenvolvimento do núcleo de Linha Batista.

 

Conforme já destacado, o clero polonês desempenhou um importante papel na sustentabilidade da cultura polonesa entre os imigrantes e colaborou decisivamente em todos os aspectos, não se limitando aos fins pastorais.

 

Esta visão dominante na literatura especializada é reforçada por Besen (2009, p.12) quando afirma “Graças ao trabalho da Igreja católica (ser polonês era ser católico), esses pobres imigrantes puderam manter seus valores familiares e culturais. Os Padres da Missão (Vicentinos), Salesianos e Diocesanos, todos vindos da Polônia, deram-lhes atendimento espiritual”.

 

Conforme Tibincoski (1997, p.10) “em 1898 chegou em Araranguá, um padre polonês, o qual se chamava Padre Francisco Chylinski, que passou a atender os imigrantes poloneses de Cocal e Linha Batista, posteriormente, foi transferido para Tubarão e Braço do Norte, onde continuava a dar assistência aos poloneses”. Assim o Padre Francisco Chilynski foi o primeiro e grande missionário dos poloneses do sul catarinense, notadamente de Cocal. A fluência nas línguas alemã, polonesa e italiana favoreceu o seu apostolado no mosaico das colônias ali existentes.

 

Neste contexto, buscando o eixo da unidade, onde a fé é primordial e não a nacionalidade, portanto atendendo a todos com o mesmo afeto pastoral, destaque para Dom Anselmo Pietrulla, natural de Knurów, próximo de Katowice, que foi nomeado bispo da Diocese de Tubarão no ano de 1955 e os padres Stanislau Cyzewski, que desde 1954 atuou no município de Criciúma; Boleslau Smielewski, nascido em 1920 em Içara e que atuou em Tubarão, Laguna e Joinville. Hilário Rózycki, ordenado padre em 1967 após estudar em Roma, que trabalhou no atual município de Capivari de Baixo, Antônio Kondlik, que administrou a paróquia de Grão Pará e Wadislau Milak, que atualmente se encontra na Polônia, prestando serviços religiosos na cidade de Cracóvia.

 

E, foi com esta intenção, segundo Tibincoski (1997, p. 31) “que dois jovens da família Macieski sentindo o chamado de Deus ingressaram no seminário”. Estamos nos refere rindo aos irmãos gêmeos Ivam e Ivanor Macieski que nasceram aos 12.04.1969 em São Lourenço do Oeste (SC) e ingressaram no seminário menor dos padres capuchinhos em Capinzal (SC) em 1982. Atendendo ao convite dos padres da Congregação Sociedade de Cristo, em 1987 os dois jovens deixaram o Brasil para completarem seus estudos teológicos na Polônia, terra de seus antepassados. A ordenação dos novos sacerdotes se deu no dia 09 de Abril de 1994 na Paróquia de Nossa Senhora da Natividade em Cocal do Sul, onde segundo Tibincoski (1997, p.31) na cerimônia “grande multidão também se fez presente, bem como bispos e uma comitiva de padres vindos da Polônia e mais uma vez a comunidade polonesa da Linha Batista se fez presente na liturgia, com o coral e o grupo de danças que após a cerimônia de ordenação, fez apresentação de danças folclóricas no salão de festas para todos os presentes”.

 

Assim, no dia seguinte conforme afirma Tibincoski (1997, p.32) “os novos padres Ivam e Ivanor celebraram sua primeira missa na Capela de São Casemiro na comunidade polonesa de Linha Batista”, missa que foi celebrada no idioma polonês com a participação do coral local, revivendo o legado deixado pelo Padre Francisco Chilynski.

 

 

 

No campo político, entre os homens ilustres que honram sua terra está Lecian Slovinski, nascido em Cocal do Sul, na localidade de Linha Torrens, hoje pertencente a Morro da Fumaça. Deputado Estadual pela região do Vale do Araranguá de 1951 a 1969, exerceu na Assembléia Legislativa as funções de vice-presidente e presidente de 1965 a 1968. Destaca-se também a atuação do Deputado Estadual Jarvis Gaidzinski, que em duas ocasiões, no período 1983/1986 e 1987/1990, estiveram no legislativo catarinense e que no período 1991/1994 representou a gente polaca catarinense na Câmara Federal, além de ter exercido o mandato de Prefeito Municipal de Cocal do Sul, no período de 1997/2000. Mais recentemente registramos a eleição também do seu filho Jarvis Gaidzinski Filho que também esteve administrando o progressista município de Cocal do Sul, no período de 2005/2008, além do prefeito Aldair Kozuchovski, que administrou com uma visão social e participativa o município de Sombrio no período de 1993 a 1996.

 

Importa destacar a maioria dos imigrantes poloneses que se radicaram nas paragens sulistas de nosso estado eram camponeses, entretanto havia artesões, tais como: sapateiros, marceneiros, carpinteiros, ferreiros, pedreiros, entre outros. Neste contexto Tibincoski (1997, p.18) afirma: “a profissão mais rendosa naquele tempo era a de ferreiro, pois não havia oficinas sofisticadas, tudo era resolvido na ferraria por encomenda”.

 

Aproveitando esta oportunidade, o Sr. Jósef Angulski montou a primeira oficina em Tubarão, pois Criciúma não comportava uma oficina naquele tempo. Seguindo nesta direção, o Sr. Miguel Novak instalou uma sapataria em Cocal e que mais tarde transferiu para a Linha Três Ribeirões. Ainda, segundo Tibincoski (1997), verifica-se que o Sr. Casimiro Wasnieski montou uma ferraria em Morro da Fumaça, bem como as habilidades de marceneiro dos Sr. Francisco Bialeski e André Studzinski e dos serviços de carpintaria executados pelo Sr. Wadislau Ranachoski. Embora de forma esporádica os conhecimentos de pedreiro foram exercidos pelos Srs. Simão Tibincoski e José Bartosiak.

 

O espírito empreendedor esteve presente também nos polônicos, como o Sr. Edmundo Angulski, que segundo Lottin (1998), atuou no comércio de Orleans por muito tempo, implantando a fábrica de Café Royal e uma fecularia em sociedade com a família Sandrini. Não podemos esquecer o arrojo e competência da família Zavaski, que fez surgir em 1973 no município de Braço do Norte uma empresa de torrefação e moagem de café e que posteriormente direcionou seus negócios para a produção de material de limpeza, higiene e conservação de reconhecida qualidade na região.

 

Já Tibincoski (1997), também destaca o Sr. José Wasnieski que construiu uma fábrica de velas de cera na Linha Cabral, mais tarde transferiu para a cidade de Criciúma, bem como a visão empreendedora do Sr. Vicente Gaidzinski, emigrante que se instalou na comunidade de Linha Batista em maio de 1891, atuando inicialmente na agricultura e posteriormente com sua destreza e habilidade montou uma pequena indústria de calçados.

 

Tibincoski (1997) salienta que os filhos mais velhos do Sr. Vicente Gaidzinski, José e Júlio não só deram continuidade ao pequeno empreendimento inicial, como também ampliaram e diversificaram novos negócios na região, inclusive adquirindo e explorando minas de carvão com singular competência e maestria gerencial. Dignas de referência foi a atuação do Sr. Julio Gaidzinski no comércio de automóveis, quando investiu na revenda e distribuição de veículos da marca Chevrolet, formando assim a JUGASA S/A, marca estrategicamente conhecida e referenciada.

 

No campo industrial e comercial, em janeiro de 1960, Maximiliano Gaidzinski, filho caçula do Sr. Vicente Gaidzinski, começou a história de uma grande empresa catarinense: a ELIANE, produzindo revestimento cerâmico, pisos e azulejos, revolucionando a produção cerâmica no Brasil. A marca ELIANE é hoje conhecida internacionalmente. A história da ELIANE se confunde com a história de Cocal do Sul, Forquilhinha, Morro da Fumaça, Criciúma e de outras tantas localidades que de alguma maneira mantêm vínculo com o grupo.

 

Neste contexto, merece destaque a contribuição do Dr. Edson Gaidzinski que juntamente com membros da família, buscou enquanto esteve à frente da empresa Eliane Revestimentos Cerâmicos, profissionalizar a gestão dos negócios, garantindo a sustentabilidade institucional, legado reconhecido pelos colaboradores, acionistas e a sociedade de uma maneira geral.

 

Verifica-se, portanto que embora a maioria dos imigrantes poloneses tivesse uma origem camponesa, o espaço geográfico que lhes foram atribuídos e o contexto regional, permitiram o surgimento de inúmeros empreendimentos inclusive de filhos, netos enfim de novas gerações, como bem afirma Tibincoski (1997) que fez questão de não se esquecer do Sr. João Bialecki que se destacou também no comércio de automóveis, fundando no ano de 1967 a FORAUTO LTDA que consolidou suas estruturas empresariais nos municípios de Criciúma, Araranguá e Içara.

 

Da mesma forma constata-se nestas paragens sulistas, a presença e atuação da primeira médica mulher a exercer a função em Santa Catarina. Estamos nos referindo a Dra. Wladyslawa Wolowska Mussi, nascida em Curitiba no ano de 1909, onde se formou na faculdade de medicina no ano de 1933, conhecendo ali seu esposo Dr. Antônio Dib Mussi. Seus primeiros anos no exercício de sua profissão se deram na capital paranaense, posteriormente chegaram a Santa Catarina no ano de 1935, onde atuaram na cidade de Laguna durante três anos e na seqüência mudaram-se para Orleans, permanecendo até os primórdios de 1946, quando se instalaram definitivamente em Florianópolis. Importa destacar, conforme Lottin (2000), que o Dr. Antônio Dib Mussi foi Prefeito de Orleans no período de 01.08.45 à 15.11.45 e de 13.02.46 à 24.03.46. Neste contexto é digno de registrar que a “Doutora”, carinhosamente assim chamada, quando de sua participação no 1º Simpósio Cultural Brasil-Polônia, realizado em abril de 1988 na cidade de Curitiba, afirmou: “a cultura polonesa, predominante na infância e juventude, influenciou toda a minha vida, quer nos ideais de liberdade e democracia, quer nos hábitos cotidianos como a leitura de livros, orações, músicas ouvidas e os acalantos para os netos”.

 

Finalmente, com intuito de preservar e difundir os valores culturais e das tradições polonesas, foi formado no ano de 1975 um pequeno coral que começou a ensaiar cantos folclóricos e religiosos, onde se destacaram pelo empenho e dedicação as famílias Machinski, Milak, Demboski, Rzatki, Bialecki, Bartosiak. Para Tibincoski (1997), este pequeno coral, permitiu a formação do Grupo Folclórico ORZEL BIALY, com sede em Linha Batista, composto de dançarinos e que participa constantemente de muitos eventos locais, no Estado e fora dele, em festas populares, religiosas e cívicas, exibindo danças de várias regiões da Polônia, com seus trajes coloridos do rico folclore polonês. 

 

Pode-se afirmar que este grupo folclórico da cultura polonesa, além de preservá-la e difundí-la desempenha um extraordinário trabalho de inclusão social, para tanto foi agraciado no ano de 1999 com a inauguração do “Centro Cultural Octávia Búrigo Gaidzinski”, espaço detalhadamente construído com apoio incondicional do empresa ELIANE – Revestimentos Cerâmicos.

 

Mais recentemente, com muita criatividade, ousadia e visão de futuro, estabeleceram parceria para a instalação do Instituto Mazowsze do Brasil, ou seja, uma filial da Escola Mazowsze, ícone da música e dança folclórica polonesa em terras catarinense e brasileira.

 

Importa destacar que a figura do Governador Luiz Henrique da Silveira, um homem que sonha, foi mais do que nunca inspiradora para que lideranças políticas e culturais da cidade de Criciúma, entre as quais o Ex-Prefeito Municipal de Criciúma, Dr. Anderlei José Antonelli e a Ex-Presidente da Fundação Cultural de Criciúma Sra. Iara Maria Silva Gaidzinski, que aliados com outras lideranças do Estado, tivessem a coragem, ousadia e a competência de transformar um sonho de milhares de poloneses que vivem em solo catarinense: a criação de um Centro de Referência da Cultura Polonesa em Criciúma, tendo o Grupo Nacional Folclórico de Canção e Dança “Mazóvia” de Tadeusz Sygietynski, como fonte inspiradora para busca de conhecimento e informações metodológicas de canto e dança folclórica.

 

Assim realizaram-se um conjunto de ações planejadas e coordenadas que culminou com assinatura do protocolo de intenções, possibilitando a criação do Instituto de Canto e Danças Folclóricas “Mazowsze” no Brasil e sua instalação na Capital Brasileira do Carvão, no dia 26 de Novembro de 2008.

 

Essa corrente de imigrantes poloneses e seus descendentes marcou também a paisagem das localidades onde se estabeleceram especialmente no campo agrícola. Mas, sobretudo na religião, na música e no folclore que muitas famílias conservam ainda hoje os velhos costumes de sua distante pátria, de maneira muito nítida, na celebração de suas principais festas. Marques (1978, p.108), sintetiza: “a soma quase infinita de sacrifícios e privações de toda ordem, agravada pelo abandono de sua velha Pátria, só podia ser superada, como o foi, por uma fé profunda e inabalável confiança em Deus”.

 

Com esforço e persistência coletiva da família, os camponeses e artesãos poloneses se integraram na sociedade sul catarinense contribuindo decisivamente para o seu desenvolvimento e como destaca Marques (1978, p.108) “vencendo as feras e dominando as intempéries, para a conquista definitiva dos vales e montanhas”.

 

Swierczek (1980), Marques (1978) e Slowinski (S.D), procuraram relacionar uma extensa lista de famílias de imigrantes poloneses, com nomes sibilantes que, pronunciados por nós, ciciam tão bem como as nossas melodiosas canções folclóricas e religiosas, que marcaram positivamente a região Sul de Santa Catarina.

 

Gaidzinski, Angulski, Bialecki, Czyzewski, Rzatki, Demboski, Slowinski, Milak, Tyskoswki, Wasniewski, Smielewski, Dabrowski, Galant, Tybinowski, Leksinski, Wojciechowski, Krystkiewicz, Michalak, Rozanski, Studzinski, Kubacki, Werpachowski, Furmanski, Machinski, Trzoska, Ptasinski, Bartosiak, Biela, Klima, Szlachta, Wroblewski, Szulcycki, Putrykus, Zazdrowski, Rajczyk, Koniarski, Nowakowski, Plaskiewicz, Bonk, Kanarek, Koniarski, Raniszewski, Kupinski, Porzycki, Nowak, Bocianowski, Stachowski, Strzalkowski, Kaminski, Smielewski, Mroczkowski, Budny, Ziolkwski, Siminski, Raczycki, Wasilewski, Folc, Stawiarski, Matusiak, Kawka, Krajewski, Maciejewski, Badziak, Danilewski, Siepierski, Liszewski, Matuszewski, Pacholek, Spancerski, Herek, Fabisiak, Rutkowski, Suchenski, Ranachowski, Radwanski, Bank, Wronski, Czyzewski, Golembieski, Demski, Guzlinski, Krajewski, Sieklucki, Baranowski, Szczepaniak, Nowak, Kazmierczak, Nolc, Nowotny, Chylinski, Lewandowski, Piasecki, Wisowaty, Stachenski, Plaskiewicz, Chojnacki, Machenski, Niedzwiecki, Bojanowski, Mroczkowski, Uczenski, Zawadzki, Pietrzak, Sztozoszek, Barabas, Getner, Buchelt, Pokumajer, Tyburski, Kubowski, Mroczek, Kuniarski, Zavaski, Macieski, Wojtcki, Trojanowski, Staszak, Skierniewski, Kozuchowski.

 

Bibliografia:

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Nazareno Dalsasso ANGULSKI*


*Pesquisador da temática polonesa em Santa Catarina.

 

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